Essa história aconteceu quando eu tinha acabado de me casar (a uns 10 anos
atrás). Uma emergência na família forçou o meu marido e eu a nos mudarmos de
Santa Catarina para São Paulo. Mas por falta de tempo para procurar algum lugar
para morar, acabamos indo morar com o meu cunhado, a mulher dele e os dois
filhos deles. Eles tinham uma filha de 4 anos, a Aline, e um recém nascido, o
Lucas.
Imediatamente eu e a Aline nos demos muito bem. Eu não gostaria de dizer que ela
era ignorada, mas a maior parte da atenção da família ia para o Lucas, e a Aline
geralmente ficava de fora nos planos deles. Ela era muito solitária e triste
quando eu conheci ela. Eu sempre via ela brincando sozinha e falando com uma
amiga imaginária que ela chamava de Gretta. Quando eu comecei a passar mais
tempo com ela, coisas estranhas começaram a acontecer pela casa.
Mas essas coisas não aconteciam simplesmente ou a qualquer hora. Elas sempre
aconteciam quando o meu marido e o irmão dele não estavam em casa. Então só a
Aline, a mãe dela o Lucas e eu estávamos na casa quando as coisas aconteciam.
Começou de uma maneira simples, apenas via coisas pelos cantos dos olhos. As
vezes quando eu estava brincando com a Aline na sala, eu podia ver o vulto de
alguma pessoa em pé, à minha esquerda. Mas sempre que eu virava, não tinha
ninguém lá. E também sempre que eu estava com a Aline em casa, eu sentia como se
tivesse alguém me observando. Eu comecei a ficar extremamente incomodada com
isso, mas como parecia não incomodar a Aline, eu achava que estava exagerando e
tentava ignorar o que quer que fosse.
Assim que o meu marido chegava em casa, toda a sensação de estar sendo observada
sumia, e a Aline parecia ficar incomodada com a presença dele. Ela ficava
emburrada pela casa e não deixava ninguém, nem mesmo eu, chegar perto dela. Numa
noite, quando eu estava toda relaxada e quase dormindo, eu ouvi o que parecia
ser o murmúrio de uma conversa, que parecia estar vindo do quarto da Aline (que
ficava do lado do nosso). Eu imaginei que ela pudesse estar falando enquanto
dormia. Eu tentei ignorar a conversa, mas a minha curiosidade acabou me
vencendo. Eu comecei a prestar atenção no que ela falava, mas era difícil ouvir
da minha cama. Tudo o que eu podia ouvir era o som da voz dela, mas não
conseguia identificar nenhuma palavra, já que ela falava tão baixinho. Então eu
notei que a luz do quarto dela estava acesa. Eu olhei o relógio digital do lado
da nossa cama eram 23:49 (sim, eu me lembro da hora exata). O que poderia uma
garota de 4 anos de idade estar fazendo acordada a essa hora, eu pensei, então
eu me levantei e fui ver. Como eu já imaginava, ela estava acordada, sentada na
cama. Eu perguntei para a Aline o que ela ainda estava fazendo acordada. Ela
sorriu "A Gretta gosta quando eu brinco com ela de noite, então ela me acorda!"
ela falou. Aquilo, de alguma maneira, soou um pouco perturbador nos meus
ouvidos. "Você estava falando com ela agora?" eu perguntei. Ela fez que sim com
a cabeça e sorriu de novo. "Então fala para a Gretta que ela pode brincar com
você amanhã, e que é para ela deixar você dormir agora." eu falei, enquanto saia
do quarto dela, mas ela m fez parar no meio do caminho dizendo "Eu não posso
brincar com a Gretta amanhã, ela fica brava quando eu brinco com você. Ela não
gosta de ser ignorada." "Vai dormir Aline!" eu falei em um tom mais severo.
Enquanto saia do quarto dela eu senti um arrepio subindo pela minha espinha,
algo me dizendo que alguma coisa lá não estava certa. E isso foi apenas o começo
de tudo. Na manhã seguinte eu decidi ter uma conversinha com a Jane (a mãe da
Aline) sobre a Aline. Eu perguntei a ela se a Aline costumava muito inventar
histórias sobre a Gretta, a amiga imaginária dela. A Jane me olhou confusa e
falou que a Aline nunca tinha mencionado nasa sobre Gretta ou amiga imaginária
nenhuma para ela. E a conversa acabou parando por ai, antes mesmo de começar.
Era difícil perguntar para a Aline sobre a Gretta. Sempre que eu fazia isso ela
parecia ficar irritada e nunca me dava uma resposta coerente ou direta. Enquanto
isso, a sensação de estar sendo vigiada continuava, e outras coisas começaram a
acontecer. A TV nunca parecia ficar em um canal só quando a Aline estava
assistindo. E enquanto eu ficava assustada e apreensiva com isso, ela parecia se
divertir e só ficava rindo. Sempre que eu passava pelo quarto dela, eu tinha a
impressão de que tinha alguém lá dentro, e sempre que eu entrava para dar uma
olhada, nunca tinha ninguém. Em algumas ocasiões, eu cheguei a ouvir passos no
quarto dela, quando eu sabia que nem ela nem ninguém estava lá.
Um dos acontecimentos mais bizarros aconteceu perto do aniversário dela. Eu
tinha comprado um esmalte que brilha no escuro para a Aline, mas antes que eu
pudesse dar a ela, ele desapareceu. Eu tinha acabado de deixar em cima da mesa
da sala e tinha me virado por alguns segundos, quando eu olhei de volta, tinha
sumido. Em poucos segundos. Eu procurei pela sala inteira, e até pelo resto da
casa, mas depois de um tempo eu desisti e resolvi que ia comprar outro para ela
no dia seguinte. Uma coisa que é importante esclarecer é que eu não tinha
contado para ninguém sobre o esmalte que eu tinha comprado para ela e quando eu
cheguei com ele, não tinha mais ninguém na casa além de mim. Mais tarde (BEM
mais tarde, já era quase meia noite) eu estava deitada na minha cama e ouvi a
Aline falando sozinha de novo. A luz do quarto dela estava acesa, mas assim que
eu me levantei para ir para lá, a luz se apagou. Determinada a ver o que estava
acontecendo eu fui até lá. Quando eu entrei no quarto dela os pêlos do meu corpo
se arrepiaram, eu sentia algo estranho, como se tivesse mais alguém lá dentro
com a Aline. Ela estava deitada na cama fingindo que estava dormindo (ela estava
fingindo que estava roncando). "Aline eu ouvi você falando, o que você ainda
está fazendo acordada?" eu perguntei. Ela continuou quieta fingindo que estava
dormindo. Mas então eu falei mais firme "Aline!", e então ela respondeu "A
Gretta estava me mostrando o presente que ela arranjou pra mim." Quando ela
tirou as mãos debaixo das cobertas, eu vi que as unhas dela estavam brilhando.
Eu acendi a luz e falei "Onde você arranjou isso?" meio desnorteada tentando
descobrir como ela tinha achado aquele esmalte depois que eu revirei a casa
toda. Então ela falou "A Gretta que me deu!" Quando eu ouvi isso, eu não sei por
que, me irritou profundamente. "Eu já estou cansada de ouvir dessa Gretta. A
Gretta não existe, agora me fale a verdade, onde você conseguiu esse esmalte?"
Antes que a Aline pudesse me dizer alguma coisa eu senti uma respiração na minha
nuca. Era gelada e me fez ter arrepios pelo corpo inteiro. Eu fiquei paralisada
de medo. A Aline agora estava quase chorando "Agora você deixou a Gretta brava!"
ela falou. Tinha alguém atrás de mim, mas eu não queria me virar para olhar quem
ou o que poderia ser. Então eu pude ouvir com muita clareza uma voz feminina
sussurrar no meu ouvido "SAIA". Eu não precisava ouvir uma segunda vez, eu sai
correndo tão depressa do quarto da Aline que eu quase tropecei no meu próprio
pé.
Quando eu entrei no meu quarto, eu estava completamente confusa e sem saber o
que fazer. Resolvi que o melhor era voltar para a cama e dormir. Na manhã
seguinte eu falei para o meu marido tudo o que estava acontecendo com a Aline.
Ele ouviu tudo, quieto, e não tentou arranjar qualquer explicação para nada. Só
ficou quieto, e depois de um tempo pensando ele falou que nós iríamos nos mudar
em breve e que não era para eu me preocupar com nada. Eu me senti culpada
deixando a Aline sozinha com a Gretta, então eu falei para o meu cunhado o que
tinha acontecido. Assim que eu mencionei o nome "Gretta", ele ficou com o rosto
pálido, quase sem expressão. Ele falou que Gretta era a mulher do antigo dono da
casa, mas que ela já tinha morrido a alguns anos, e que só ele sabia disso, nem
a esposa dele sabia sobre isso. Então, como é que a Aline poderia saber sobre a
mulher? Então eu disse a primeira coisa que me veio na cabeça. "Preste mais
atenção na sua filha, por que se você não prestar, alguém mais vai."
Beatriz - São Paulo - S.P.